A fatia de brasileiros que engrossou a lista de inadimplentes pela falta de pagamento de despesas com comida, entre janeiro e junho, foi a maior em cinco anos. A disparada da inflação e a queda na renda explicam a entrada de devedores para lista do calote pelo não pagamento da fatura de um item básico.
No primeiro semestre deste ano, 18% dos inadimplentes deixaram de quitar despesas com alimentação e, por isso, foram parar na relação dos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) com restrição. Essa é a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando a Boa Vista, empresa especializada em inteligência financeira e análise de crédito, começou a coletar essas informações. Ao longo do primeiro semestre, foram consultados eletronicamente 1.500 inadimplentes, a fim de traçar o perfil desses consumidores.
Contas diversas não pagas, que incluem despesas com educação, saúde, impostos, taxas, lazer e outros gastos, ainda têm sido apontadas pelos brasileiros nos últimos anos como a despesa que tem levado a maioria dos consumidores (23%) à inadimplência. No entanto, desde o segundo semestre do ano passado, a parcela daqueles que não conseguiram honrar o pagamento das despesas com alimentação chama atenção.
A inadimplência nas despesas com alimentação reflete o aumento da inflação e a perda de renda da população, observa o economista. Nos últimos 12 meses até julho, a inflação do grupo alimentação e bebidas acumula alta de 14,6%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) -15, a prévia da inflação oficial apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um resultado que supera a variação do indicador como um todo no período, que foi de 11,39%.
Márcia De Chiara, O Estado de São Paulo