Quase quatro anos após a maior tragédia socioambiental da história do Brasil, ocorrida em Mariana – MG, a atividade mineradora provocou mais uma vez danos incalculáveis na vida dos moradores de Minas Gerais. Na tarde da última sexta-feira (25), outras três barragens de rejeito de minério, cuja empresa Vale/SA é a responsável, se romperam em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Após o rompimento das barragens em um complexo de exploração de minério de ferro, uma onda de lama se espalhou pela região — destruindo casas, rios e solo. De acordo com informações divulgadas hoje pela Defesa Civil de Minas Gerais, já são 60 mortes confirmadas e 292 pessoas ainda permanecem desaparecidas.
A lama invadiu o refeitório da empresa mineradora por volta da hora do almoço e o local estava repleto de funcionários segundo informações divulgadas pela Vale/SA. Muitos desses funcionários ainda não foram encontrados. Relatos de moradores da região confirmam que a lama alcançou o Rio Paraopeba, que deságua no Rio São Francisco.
A Federação Nacional dos Empregados em Postos de Combustíveis e Derivados do Petróleo (Fenepospetro) vem por meio deste texto prestar toda solidariedade ao povo atingido pelo rompimento das barragens em Brumadinho/MG e cobrar a devida apuração dos fatos e responsabilização dos envolvidos.
Há 22 anos, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), patrimônio público brasileiro, foi privatizada sob o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. A empresa foi vendida na época por US$ 3,4 bilhões e, conforme apontado em dados reunidos pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, ativos como portos, ferrovias, frota de navios e reservas de recursos minerais foram subestimados e até mesmo não contabilizados no financiamento subsidiado disponibilizado pelo BNDES.
Nos anos seguintes à privatização, o valor da empresa se multiplicou muito rapidamente. No entanto, os programas de desestatização implementados em meados dos anos 1990, sob alegação de responder a crises de ordem fiscal, não trouxeram para o país os resultados prometidos.
Conforme aponta nota do Dieese, “entre 1995 e 2003, a dívida líquida do setor público passou de 28% para 52% do Produto Interno Bruto (PIB)”. A nota aponta também que o programa de privatização não aumentou a eficiência dos serviços prestados. Ao contrário, o que se observou foi expressivo crescimento das terceirizações e piores condições de trabalho, além de aumento das taxas de serviço.
Conforme aponta relatório elaborado por atingidos pela Vale, apesar de a empresa obter lucros estratosféricos não há retorno expressivo para a população. Nas últimas décadas, inúmeras mineradoras estrangeiras se instalaram no Brasil e vêm construindo em nosso território um histórico de violações socioambientais.
A política centrada na privatização de ganhos e socialização dos prejuízos denunciada por movimentos sociais ganhou evidência em 2015 com o rompimento da barragem de propriedade da Vale e da australiana BHP Billiton, em Mariana-MG. A tragédia em Mariana foi a maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos e comprometeu toda a Bacia do Rio Doce – a saúde do rio e do ecossistema – e o abastecimento de milhares de pessoas.
Quase quatro anos depois do maior crime ambiental da história do país a história se repete. Vítimas ainda vivem as incertezas e as empresas responsáveis, a garantia da impunidade. Quanto Vale?
*Via assessoria de imprensa Fenepospetro.