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Episódio de racismo universitário revela horror discriminatório profundo

  • Postado por: Marcela Canero
  • Categoria: Notícias

No último final de semana a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, foi palco de cenas criminosas segundo denúncias de estudantes que participavam dos Jogos Jurídicos 2018 – evento desportivo que reúne estudantes do curso de direito.

Segundo relatado por estudantes, durante uma partida de futebol entre estudantes da PUC-RJ e da UCP, uma integrante da torcida da PUC teria jogado uma casca de banana na direção de um atleta negro da PUC, e posteriormente outros membros da mesma torcida teriam imitado macacos diante de torcedores negros da UERJ e ainda uma estudante negra da UFF teria sido ofendida diretamente com o termo “macaca”.

Estes episódios criminosos seriam por si só aberrações desumanas e totalmente reprováveis porém abriram uma “caixa de pandora” ainda pior: a “cultura discriminatória” demonstrada no evento desportivo já vinha sendo praticada por meio de músicas que atacam diretamente estudantes negros, pobres e/ou cotistas de universidades públicas do Rio de Janeiro de forma deplorável.

Diante do “escândalo” causado pela postura desumana no evento desportivo, estudantes universitários alegam que houve uma tentativa deliberada de “apagar” as músicas que não logrou êxito, e uma vazou nas redes sociais (vídeo). Diversas letras discriminatórias foram denunciadas em uma página relacionada ao meio universitário nas redes sociais:

“Bom aproveitando que todos os holofotes estão pro direito da PUC aqui vão algumas músicas que eles de ontem pra hoje deixaram indisponível por motivos de: vamos levar mídia, porque não serão tolerados machismo, preconceito e racismo por parte da PUC. Que triste que alunos tenham sofrido de forma tão grotesca para que as pessoas se atentasse para o que estava acontecendo.

E deixo aqui o meu apelo as demais atléticas: vocês podem brincar, zoar e ter as rixas de vocês mas pelo amor presta atenção com o conteúdo das músicas que vocês estão perpetuando por aí e façam como a nacional que cortou diversas músicas ao longo dos anos por que já não cabia mais, muitas músicas são antigas e mesmo que seja conhecida no meio se ela for machista, preconceituosa, descriminatória, homofóbica e racista, só tirem.

E não é mimimi, porque foram alunos machucados e hostilizado em pleno 18.1 por palhaçada, ngm é melhor do que ngm por estudar em determinada instituição.

PUC-Rio -UFRCOTA FND

Ih já tem cota, UFRJ já tem cota UFRJ
Cheio de mendigo do campo de Santana
É só gordinha chechelenta
Já tem cota, já tem cota
Eu estava comendo geral foda-se
Baixou o morro da previdência
Tá com sarna na vaga, rabugento é vira-lata
Cota pros pobrinho
Já tem cota UFRJ
Já tem cota pros pobrinho
Já tem cota UFRJ

Perla

Já tô sabendo que tu tem cota também, tem também
Logo você que zoava o congolês, o congolês
Agora UFRJ se fudeu, se fudeu
O pobre deles não é mais pobre que o seu
Quer ajuda pro trem eu inteiro
O trocado pro lanche eu dou
Aproveita que hoje eu tô bonzinho
Dou cinquinho pelo seu popo
No fim do mês a grana vai faltar, vai faltar
Vai no lixão lá da central catar lata
Quer ajuda pro trem eu inteiro
O trocado pro lanche eu dou
Aproveita que hoje eu tô bonzinho
Dou cinquinho pelo seu popo
No fim do mês a grana vai faltar, vai faltar

As músicas:

PUC-Rio – Congo UERJ

Bota o Congo pra mamar
Ela é cotista e sempre quer que eu banque
Mas eu só vou pagar se eu gozar
Chupa sem o dente pra me deixa contente

Bota o Congo pra mamar
Ela é cotista e sempre quer que eu banque
Mas eu só vou pagar se eu gozar
Chupa sem o dente pra me deixa contente

É favelada vou ajudar um pouquinho
Então toma um trocadinho vai, toma um trocadinho
E faz um lanche ali no bandejão
Pão com mortadela de repente um requeijão
De laranjeira foi pra Madureira
Hoje ela se esconde no morro do dendê
Foi lavadeira, já foi faxineira
Hoje é cotista ganha a vida com michê (puta)

PUC-Rio – chumbo quente

Infelizmente as da UERJ não tem dente
Tem um bigode que espeta e eu não pego nem doidão
Lá no fundão só cocota vagabunda
Que adora dar a bunda e querem surra de molão
Unirio dão demais, as da UFF dão no chão
Tá ligado aqui é PUC rio aqui só tem moleque bom
Junto com o jacaré vai pro caralho é a gente
Se liga PUC rio vai comprar Candido Mendes”.

Ainda segundo relatos de estudantes, esta prática discriminatória em músicas e eventos desportivos não é novidade e causa espanto que as instituições de ensino universitário nunca tenham tido notícia para coibir adequadamente tal prática. Segundo a Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de Direito da PUC-Rio, em declaração para jornalistas, será constituída uma Comissão Disciplinar para averiguação das informações relativas à ocorrência nos jogos jurídicos e, caso confirmada a veracidade, haverá responsabilização de membros do corpo discente.

Nos resta, como sociedade civil, exigir que tais apurações não se limitem apenas ao episódio dos jogos jurídicos incluindo também uma profunda averiguação de possíveis condutas criminosas que tornam o ambiente universitário insalubre para pessoas não oriundas das classes abastadas. A impunidade e a forma como são tratados os reiterados incidentes de mesma natureza perpetuam a sensação de que o ambiente acadêmico é um ambiente exclusivista e elitista e tal postura deve ser combatida e criminalizada para o bem de toda a sociedade.

Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical, por Roger Mcnaught.